
Se parar pra analisar de verdade, trata-se de um discurso altamente político e sindicalizado, mas não, eu não tenho o menor tino pra coisa... queria falar hoje sobre o assunto emprego, como uma coisa muito séria pra todo mundo que está mal empregado, mal remunerado e acredita fielmente que esteja passando por uma grande injustiça.
Ainda encontro pessoas que me olham e me abordam como: será que o problema não está em vc, Vanessa?!, por conta da quantidade de registros que tive, e as formas como tenho sido demitida. Estamos num momento do ano em que conseguir emprego deveria ser muito mais fácil, embora essa tal de crise financeira mundial seja uma assombração e uma muleta muito eficaz pra muita gente...
Todos os dias, qdo venho ao computador, antes de começar a me entreter com orkut, blog, e-mails pessoais..., eu realmente olho todas as agências de emprego virtuais as quais eu sou cadastrada, afim de verificar quais são as vagas do dia. Se for pra agir com a maior honestidade do mundo, eu realmente não devia mais estar desempregada, e certamente nem mais trabalhando com telemarketing...tudo isso se eu me sujeitasse a ganhar menos que R$900,00 por mês. E o problema está aí.
Hoje eu estava vendo um telejornal com a matéria sobre trabalhadores que fazem empréstimos consignados e têm os descontos direto em folha...os caras falavam que não viam a cor do salário, que ainda estavam com atrasos e dívidas...enfim... nada que a rotina não nos mostre... Mas aí, se olharmos mais a fundo a situação, perceberemos que a carteira de trabalho dos caras têm um salário que não chega a mil reais....geralmente não colocam pra fazer uma matéria de empréstimo consignado, um cara de 18 anos de idade... São homens com responsabilidade familiar alta...às vezes os únicos que trabalham em casa... Dentro de call center, não é diferente... mulheres e homens com filhos, com vontade de estudar, com vontade de ter uma vida independente, comprar um carro, um imóvel..um sapato que substitua o de sempre...uma roupa pra ir na formatura de alguém... a vontade de casar na igreja, com festa, com a reunião da família... São motivos torpes?...Será que ninguém que trabalha pode pensar em algo assim para vida? Será que a única razão de passarmos a maior parte da nossa vida longe de quem realmente importa para nós é só pagar, pagar, pagar?...De qualquer forma, são culpados por deixarem as empresas estamparem na carteira de trabalho um salário de R$465,00, com toda a história de vida e conhecimento que têm. Gente formada, gente com educação, gente que investiu muito caro por um diploma, que se desespera pelo desemprego e pelas urgências da vida, e se deixam levar por salários que não vão mudar a condição de desespero em que se encontram... começam a tapar buracos, esperam pelo tempo que as financeiras geralmente exigem que vc tenha de "estabilidade" em seu emprego, fazem empréstimos, ativam cartões de crédito, solicitam cheques... para tapar outros buracos maiores da subexistência e, quando menos esperam, estão numa condição pior do que a que estavam enquanto desempregados...correndo risco de perder o pouco que entra por meio do salário, e de serem presos, por não honrarem o que devem...
E, por causa dessas pessoas, eu e muitos outros que procuram por uma oportunidade profissional sofrem, porque não queremos retroceder à condição que as empresas já se acostumaram a ter: quanto mais empregados desesperados, menos seletivos e exigentes serão por uma condição de trabalho e remuneração melhores. Daí, aumentam as exigências para quem é contratado, mas pouco se valoriza o caminho que o profissional percorreu para ter experiência, instrução, formação, preparo técnico, enfim...
Vai parecer ridículo, porque cada um sabe de suas necessidades e de suas vidas, mas acho que deveria haver um boicote crítico à empresas que oferecem salários miseráveis para pessoas que precisam ter boa formação e experiência de mercado. Acho que é muito injusto ficar desempregada porque não aceito diminuir R$600,00, R$700,00 do meu último salário, como muitos por aí aceitariam em nome de um desespero mal calculado de vida. É injusto eu ter que pagar com o meu desespero, pelas decisões desesperadas dos outros que se sujeitam à maus salários para tapar o sol com uma peneira.
...E é por isso que eu não costumo dar gorjeta pra ninguém... Todo mundo que trabalha esperando que a caridade dos outros seja maior que a responsabilidade do seu patrão devia repensar a própria vida... E, por favor, pensem mesmo, porque eu preciso trabalhar.