sexta-feira, 22 de maio de 2009

Seis Meses




...Há males que vem para o bem...


...Deus fechou uma porta para que outras se abram...


...Daqui pra frente será mais fácil, com a experiência que vc tem...


...Bola pra frente!...


...Agora é que as coisas vão começar a melhorar...


...Não pode ficar desanimada!...


...Tenha fé...


...As coisas são assim mesmo, mas um dia muda...


...Sei que não é fácil, mas não há mal que sempre dure...


...Deus não nos dá uma cruz maior do que possamos carregar...


...Se nada aconteceu até agora, é porque não chegou a hora certa de acontecer...


...Não pode deixar a Peteca cair!...


...Deus tá preparando uma coisa boa pra vc...




***




...Já faz um semestre que ouço, leio e tento absorver em meu rosto, em minha cabeça e em minhas atitudes essas palavras...




...não dá mais...

domingo, 17 de maio de 2009

Enquanto estou no divã, a terapeuta anota...


...Uma vez, procurando um documento para a Wal...rescentemente, procurando minhas bisnagas de tinta para pintar um quadro... tenho me deparado com meus cadernos velhos, velhos rabiscos e confissões para passar o tempo e para buscar concentração frente ao trabalho e ao estudo...Há muito o que se jogar fora... acho que eu encheria fácilmente três sacos grandes de lixo com essas coisas guardadas em meu armário, mas toda a releitura feita, me deu a luz de minhas limitações existenciais...


Penso em trabalho desde meus 15 anos. Gosto de desenhar desde os meus 6 anos...antes disso, eu não entendia minha existência e chorava por não entender... só chorava...e isso de chorar, me afastava das pessoas... eu não era fácil... mas queria ser... desejava tudo o que todo mundo queria... ter amigos ao meu redor...brincar com minhas bonecas... imitar a minha irmã mais velha... E enquanto crescemos...enquanto eu crescia, aspirações que eu tinha pra vida eram jogadas no chão com a violência dos raios... e eu explico-as...


... Aprendi com o desenho que era uma ótima forma de esquecer que eu não era fácil, que eu precisava de um motivo pra entender o que eu estava fazendo por aqui e que eu repelia as pessoas... me aproximei de um amigo que desenhava barcos, àrvores e super heróis de vídeo game com cores vivas e alegres... nós tínhamos 7 anos... ele tinha muitos amigos... Meu vizinho adulto também era muito bom com desenhos, todas as crianças do prédio gostavam dele por ele parecer nem ter crescido... óbviamente adolescentes e moças do prédio tb o adoravam por outros atributos que não cabiam à mim, uma criança que gostava de compartilhar desenhos, julgar... ñ me importava de verdade... ele sabia desenhar...ele era meu amigo... e tinha muitos outros amigos que eu queria ter... Sempre fui muito criativa para escolher temas para os meus aniversários, mas não porque era gostoso ser criativa, mas porque as pessoas precisavam de um motivo muito forte para celebrar essa data comigo...Comecei a desgostar de aniversários qdo ficou muito claro pra mim que eu precisava fazer força para as pessoas estarem comigo nesse dia... eu precisei existir 23 anos pra entender que minha criatividade nasceu da solidão que eu nunca deixei de sentir em relação a amigos... E sobre os desenhos...bom, os desenhos... eu tive a grata oportunidade de ter uma mãe em minha infância que me instigava a ter cultura e me doutrinava a não falhar, por não ter tempo de me acudir se algo desse errado em minha jornada... sempre fui muito fã da Praça da República aos domingos, por causa da feira de artesanato e quadros... todavia, pude presenciar quadros ficando amarelos na calçada...semana após semana de exposição, sem ninguém interessado em levar pra casa qualquer um deles...repetidos na calçada... alegrando minha vista enquanto minha consciência me dizia que quadros à venda sem serem vendidos não poderiam trazer felicidade àqueles que precisavam do dinheiro para fazer valer seu dom...eu nunca vira ninguém comprar desenhos... exposições na Pinacoteca, no MASP, no MAM sempre me pareceram lixos, perto da diversidade de cores e vida da Praça da República, das telas de figuras indígenas no Embú das Artes... eu não podia falhar... então, não podia viver de desenhos qdo fosse adulta, porque arte urbana não me sustentaria no futuro que era ainda tão distante para os olhos de uma criança, mas tão próximo para quem está olhando para trás agora...


Se existe certo ou errado no conceito de gostar de pessoas, tb ñ fiz as escolhas certas... eu queria ter amigos... ser amada por alguém um dia... que aquela coisa de chorar e repelir pessoas pudesse se extinguir, como uma perda instantânea de memória respeitada por todos...mas...que todos?...ñ havia "todos"...eu gostava de pessoas que eu queria ser... garotos bonitos demais...pessoas cercadas por amigos sem fazer força... pessoas que não pensavam muito e eram inteligentes...pessoas que nem se esforçavam pra ser inteligentes mas sabiam conquistar a atenção necessária para serem queridas...pessoas que se empenhavam ridículamente pra aparecerem para os outros, e não eram ridicularizadas, mas sim reconhecidas pelos seus esforços e progressos... pessoas com qualidades abolutas de perfeição e outras com fragmentos de admiração como um sorriso iluminado, ou uma voz calma... ou um olhar expressivo... ou atitudes carismáticas... isso até fazia eu diminuir o crivo de seleção, como se eu pudesse ou estivese em posição de escolher quem pudesse gostar de mim... Já gostei de pessoas casadas...já gostei de pessoas que não mereciam ser gostadas...já gostei de gente feia tanto quanto gostei de gente bonita... já fui usada e quase nada usei, pelo que me lembro, de ninguém... ou usei?... e em todos eu enxergava pedaços do que eu sempre quis ser e nunca fui... aos 28 anos coleciono mais platonismos do que o exercício de trocar sentimentos...enfim...


Não tenho muitos reais amigos...


Creio não saber gostar de gente... ñ estou em posição de julgar ou desrespeitar a decisão de quem não gostar de mim, justamente porque eu não sei gostar de gente...


Eu penso em trabalho desde os meus 15 anos... eu trabalho desde os 17 anos... Não estudei artes, logo, ñ sou. A idéia era que eu aos 25 anos já me sustentasse com estabilidade profissional e emocional, mas aos 25 anos eu estava sendo demitida mais uma vez, e tratava de minhas debilidades com remédios controlados e terapia, logo, a idéia falhou. Tive empregos registrados. Tenho duas carteiras de trabalho, sendo uma carteira cheia de registros, mas não tenho empregos estáveis e a cada vez que ouço que não tenho perfil para a vaga que busco, ou que não tolero o que vejo dentro do ambiente de trabalho em que estou, a ponto de ser mandada embora, ou desistir, me fazem constatar que, embora tantos lugares, embora o curso técnico e um diploma de faculdade e depois de 12 anos, eu não sei trabalhar e nada aprendi sobre isso. ... e a verdade é que a cada entrevista, a cada página virada de meus cadernos...minhas anotações... minhas avaliações de escolas... meus desenhos... meus poemas... a minha forma de gostar de pessoas ( e de não gostar)... tudo me aproxima do fato de que embora tudo,



(...) eu ñ sou,(...)

(...) a idéia falhou,(...)

(...) eu não sei trabalhar e não aprendi nada (dentre outras anotações e rabiscos para a próxima consulta).